quarta-feira, 15 de dezembro de 2010




UMA VISÃO COMPARATIVA DA QUALIDADE PÓS-COLHEITA DE FRUTOS DE MAMOEIRO, NO MERCADO DO PIRAJÁ EM JUAZEIRO DO NORTE, CEARÁ E NAS FEIRAS LIVRES DA CIDADE DE PETROLINA-PE.



Maria Andreia Rodrigues de Moura¹; Joaquim Torres Filho²

¹Aluna do Curso de Agronomia do Campus da UFC no Cariri:e-mail: andreiamoura.kd@bol.com.br

² Orientador: Professor Adjunto do Curso de Agronomia do Campus da UFC no Cariri: joaquim.torres@ufc.br


RESUMO

O referido trabalho foi realizado no mercado do Pirajá na cidade de Juazeiro do Norte- Ce e nas feiras livres da Petrolina-Pe, nos meses de junho e julho de 2010. Este teve por objetivo realizar uma visão comparativa da qualidade pós-colheita dos frutos de mamoeiro. As coletas de frutos de mamão foram realizadas com base nos sintomas exibidos. As amostras foram colocadas individualmente em sacos plásticos, os quais continham ficha de identificação com os seguintes dados: local, data da coleta e tipo de sintoma. Com base na sintomatologia observada e na revisão bibliográficas identificamos as doenças e suas possíveis causas. Foram constatadas as seguintes doenças nos matérias coletados no mercado público do Pirajá em juazeiro do Norte: Meleira (Papaya meleira vírus, PMeV), Vírus da mancha anelar do mamoeiro (“Papaya ringspot virus - type P” - PRSV-P), Antracnose do mamoeiro (Colletotrichum gloeosporioides), Varíola ou pinta preta do mamoeiro (Asperisporium caricae). Nas feiras livres da cidade de Petrolina – PE foi relatada com maior ocorrência apenas a antracnose do mamoeiro (Colletotrichum gloeosporioides).

Palavras-chave: Papaya; Fitopatologia; Perdas.

Introdução

O Brasil é o maior produtor de mamão. Apresenta uma área plantada de 35 mil hectares e uma produção de, cerca de 840 milhões de frutas (TODA FRUTA, 2003).

O cultivo irrigado de frutas na região do Cariri ainda é incipiente, tanto em área plantada, quanto na utilização de tecnologias modernas de cultivo (BNB, 2001). Ao contrário, o Vale do Sub-Médio São Francisco se destaca pela tecnologia na agricultura irrigada mais especificamente a fruticultura irrigada. A Cidade se sobressai frente às condições adversas do semiárido, gerando empregos e renda na região, além de demonstrar a eficácia de alternativas econômicas para o Nordeste. Os efeitos de oito meses de estiagem durante o ano são mitigados pelo uso da irrigação, que proporciona as condições ideais para a produção do mamoeiro (UFBA, 2008).

A cultura do mamoeiro se destaca no cenário do agronegócio cearense e pernambucano como uma das mais importantes do ponto de vista econômico. O cultivo dessa fruteira se constitui em um verdadeiro desafio para o produtor rural, tendo em vista a ocorrência de fitomoléstias causadas por fungos, vírus e nematóides, que podem se tornar um fator limitante à produção, além dos danos pós-colheita os quais o fruto está totalmente suscetível quando mal acondicionado.

Considerando as exigências dos consumidores, o aspecto visual do fruto é de suma importância. Esse aspecto é colocado em risco quando o transporte com o fruto se torna inadequado. A principal causa de perdas pós-colheita de mamão está relacionada à ocorrência de injúrias mecânicas, que induzem aumento da taxa respiratória e consequente redução da vida pós-colheita do fruto (MOHSENIN apud SANTOS et al, 2008).

As perdas fitopatológicas quantitativas também causam prejuízos à cultura do mamoeiro. Estas perdas resultam do rápido ataque dos patógenos ao tecido sadio, com quebra extensiva e usualmente completa dos tecidos do hospedeiro. Estas perdas resultam do defeito ou doenças da superfície que torna o produto menos atrativo e, portanto, menos comercializável, embora a destruição real do produto tenha sido pequena (CHITARRA, 2005).

O objetivo do presente trabalho foi realizar uma visão comparativa da qualidade pós-colheita de frutos de mamoeiro, no mercado do Pirajá em Juazeiro do Norte, Ceará e nas feiras livres da cidade de Petrolina-Pe.

Material e métodos

O trabalho foi realizado no mercado do Pirajá, maior centro de comercialização de frutas no município de Juazeiro do Norte e nas feiras livres da cidade de Petrolina, nos meses de junho e junho de 2010. As coletas de frutos de mamão foram realizadas com base nos sintomas exibidos. As amostras foram colocadas individualmente em sacos plásticos, os quais continham ficha de identificação com os seguintes dados: local e data da coleta e tipo de sintoma. Em seguida os frutos colhidos no mercado do Pirajá foram levados para o Laboratório de Biologia da Universidade Federal do Ceará no Campus Cariri.

Os frutos para amostra na cidade de Petrolina foram coletados no estádio 3 de maturação, ou seja com até 50% da superfície amarela . Por esse motivo fez-se necessário deixá-los expostos por um período de 5 dias em temperatura ambiente a fim de se observar injurias pós-colheita e sintoma fitopatológicos de doenças.

Com base na sintomatologia observada e na revisão bibliográfica identificamos as doenças e suas possíveis causas. As doenças ocasionadas por vírus foram identificadas levando-se em consideração os sintomas exibidos.

Resultados e discussão

De acordo com a identificação dos sintomas e as análises fitopatológicas realizadas foram constatadas as seguintes doenças nos frutos coletados no mercado público do Pirajá em Juazeiro do Norte: Meleira, anomalia caracterizada por intensa exsudação de látex dos frutos cujo agente causal é o Vírus da meleira do mamoeiro (Papaya meleira vírus, PMeV), Vírus da mancha anelar do mamoeiro (“Papaya ringspot virus - type P” - PRSV-P), Antracnose do mamoeiro (Colletotrichum gloeosporioides), Varíola ou pinta preta do mamoeiro (Asperisporium caricae).

De acordo com as observações e conversas com os feirantes no mercado do Pirajá, pode-se constatar que a grande maioria dos frutos de mamão, vendidos no referido mercado, são procedentes de outros estados como Pernambuco e Bahia. Segundo os feirantes os frutos chegam em caixas plásticas, enrolados com jornais,ou a granel, e passam até 6h em cima de caminhões chegando ao mercado nos mais distintos estádios fisiológicos. Os efeitos das injúrias mecânicas aceleram os processos relacionados ao amadurecimento, dentre eles, a evolução da cor da casca de mamões (BRAGA, 2004).

Estudo realizado por Santos et al. (2008) mostrou que o transporte de mamões Formosa a granel, muito comum em algumas regiões do país, promove alterações na sua qualidade pós-colheita, com aumento do índice de cor da casca, redução na firmeza da polpa, elevada perda de massa fresca, aumento da taxa respiratória e maiores percentagens de área da casca injuriada. Reforça ainda mais esse quadro caótico de comercialização de frutos com muitas doenças pós-colheita as observações de CHITARRA (2005): Estas perdas resultam do defeito ou doenças da superfície que torna o produto menos atrativo e, portanto, menos comercializável, embora a destruição real do produto tenha sido pequena.

O mamão, por ser um fruto altamente perecível, pode apresentar um alto nível de perda na fase pós-colheita, sendo este, atribuído principalmente a injúrias mecânicas, provenientes de atrito e/ ou compressão, que ocorrem devido ao manuseio inadequado dos frutos, como também devido ao transporte destes (TODA FRUTA, 2003). Os danos físicos dos frutos são excelente porta de entrada para fitopatógenos causadores de doenças.

Nas feiras livres da cidade de Petrolina – PE foi relatada com maior ocorrência apenas a antracnose do mamoeiro (Colletotrichum gloeosporioides). Isso se deve ao fato que os frutos revendidos na referida cidade são comercializados no estadio 3 de maturação, ou seja, com até 50% da epicarpo amarelo. Vale salientar que o mamão vendido nas feiras livres de Petrolina é todo produzido na própria cidade, o que facilita a colheita no estádio desejado de maturação, além de proporcionar um escoamento mais rápido dos frutos as feiras livres da cidade. Os frutos “verdes” (menos maduros) quando danificados mecanicamente podem não apresentar sintomas de “maus tratos”, mas com o avanço em seu grau de amadurecimento, certamente desenvolverão tais sintomas.

Segundo Santos (2008) a determinação do ponto de colheita é um aspecto de fundamental importância na qualidade das frutas, sendo estabelecido em função do meio de transporte e da distância do mercado.

Com ataque de microrganismos ocorre redução da qualidade e da vida de prateleira dos produtos hortícolas, resultando em defeitos ou doenças superficiais ou com destruição dos tecidos, o que torna o produto menos atrativo ou não comercializável. Esses danos são particularmente indesejáveis em frutas e hortaliças destinadas ao consumo in natura, no qual se dá ênfase especial à qualidade visual do produto (CHITARRA, 2005).

Conclusão

1. O manuseio adequado é essencial desde a colheita até a fase de comercialização do fruto e isso evitaria muitos problemas de injúrias e doenças;

2. O inadequado acondicionamento para o transporte de mamões promove alterações na sua qualidade pós-colheita, fato este verificado em Juazeiro do Norte;

3. O estádio de maturação o qual o fruto do mamão é colhido é um fator limitante para qualidade pós-colheita do mesmo, principalmente se o transporte for à longa distância.



Referências

BNB – Banco do Nordeste do Brasil. Documento Referencial do pólo de desenvolvimento integrado. Disponível em: . Acesso em: 18 set. 2009.

CHITARRA, M. I. F.; CHITARRA, A. B. Pós-colheita de frutas e hortaliças: fisiologia e manuseio. 2. ed. rev. e ampl. Lavras: UFLA, 2005. 174; 785 p.

UFBA – Universidade Federal da Bahia. Cultivo do mamoeiro no semiárido. Disponível em: < www.mesteco.ufba.br/scripts/arquivos/1742009213229.pdf>. Acesso em: o7 jun. 2010.

SANTOS, C.E.M.; COUTO, F.A.A’A.; SALOMÃO, L.C.C.; CECON, P.R.; JÚNIOR, A.W.; BRUCKNER, C.H. Comportamento pós-colheita de mamões Formosa 'Tainung 01' acondicionados em diferentes embalagens para o transporte. Revista Brasileira de Fruticultura, v. 30, n. 2, Jaboticabal, jun, 2008.

Toda Fruta. Informe sobre a produção de mamão. Disponível em: http://www.todafruta.com.br/portal/icNoticiaAberta.asp?idNoticia=41152003. Acesso em: 10 de julho de 2010.

BRAGA, L. R. Características químicas e físicas de mamões do grupo ‘Solo’ submetidos a diferentes injúrias mecânicas. 2004. 46p. Dissertação (Mestrado em Fitotecnia) – Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, 2004.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

RISCOS E DANOS NA APLICAÇÃO DE AGROTÓXICOS NA AGRICULTURA FAMILIAR NO MUNICÍPIO DE JARDIM - CE

Joaquim Torres Filho [1]; Hernandes Rufino dos Santos [2].

[1] Professor adjunto do Curso de Agronomia do Campus da UFC no Cariri. e-mail: joaquim.torres@ufc.br

[2] Aluno do Curso de Agronomia do Campus da UFC no Cariri.– e-mail: hernandesufc@yahoo.com.br


Resumo

O uso de agrotóxicos na agricultura familiar é contraproducente e preocupante. Os agrotóxicos são usados em larga escala em grandes e pequenas áreas de todo o Brasil. O desconhecimento de qualquer informação sobre seu uso mostra a vulnerabilidade dos produtores rurais a qualquer tipo de pesticida. O trabalho foi conduzido no distrito de Novo Horizonte no município de Jardim - CE com agricultores familiares que utilizam agrotóxicos em seus plantios. Foram realizadas vinte entrevistas no período de junho a julho de 2010. Foi aplicado um questionário com perguntas sobre a cultura plantada, aquisição, preparo e aplicação de agrotóxicos. Quando questionados se recebem orientação para o uso racional de agrotóxicos, foi unanimidade o não, representando todos os entrevistados. Não existe treinamento e muito menos recomendação para uso e manuseio de agrotóxicos. Sabendo-se que é muito comum o uso de calendário para aplicação de agrotóxicos, perguntou-se se eles aplicam de maneira preventiva: (92,30%) responderam que não e (7,70%) positivamente. Quanto a confiabilidade dos resultados obtidos pela aplicação dos agrotóxicos, todos foram unânimes em afirmar que sim, muito embora não tenham parâmetros para afirmar tal assertiva. Verifica-se uma situação de grande risco para aplicadores e para o meio ambiente, pela ausência de orientação, muito menos capacitação técnica. Não existe fiscalização sobre a emissão de receituário agronômico, muito menos fiscalização de órgãos competentes.



Palavras-chave: Agroquímicos; Diagnóstico; Risco.



Introdução

O processo de modernização tecnológica iniciado nos anos 50 com a chamada “Revolução Verde” (BRUM, 1988), alterou significativamente as práticas agrícolas, gerando mudanças ambientais, tanto na carga de trabalho e nos seus efeitos sobre a saúde, deixando os trabalhadores rurais expostos a riscos muito diversificados.

A cultura da aplicação de agrotóxicos é avassaladora e na maioria dos casos por falta de uma consciência maior de todos os atores da cadeia de produtos da agricultura familiar, contribui para o desequilíbrio biológico e ainda para a situação de risco da saúde do agricultor e dos consumidores. A partir dos anos 60, em vários países latinoamericanos, incluindo o Brasil, os agrotóxicos passam a ser amplamente difundidos como parte fundamental da agricultura moderna, cuja meta era o aumento da produção e da produtividade das atividades agropecuárias, a chamada “revolução verde” (BULL e HATTAWAY, 1986).

O Brasil é o terceiro mercado e o oitavo maior consumidor de agrotóxicos por hectare no mundo, sendo os herbicidas e inseticidas responsáveis por 60% dos produtos comercializados no país (FAIRBANKS, 2001). Por um lado, a febre de consumo de agrotóxicos é uma realidade em quase todas as regiões do país, como se fossem capazes de resolver tudo, por outro, a população demanda cada vez mais por alimentos isentos desses produtos.

Estima-se que dois terços da população do país estão expostos, em diferentes níveis, aos efeitos nocivos desses agentes químicos, seja em função do consumo de alimentos contaminados, do uso de agrotóxicos para o combate de vetores de doenças infecto-contagiosas ou pela atividade laboral. Mas nenhum grupo populacional brasileiro é tão vulnerável a esses produtos quanto os trabalhadores rurais (PERES, 2003). Este fato é uma realidade, pois a grande maioria dos trabalhadores rurais ao utilizar agrotóxicos não usa equipamentos de proteção individual e não tem cuidado com o manejo e a aplicação dos produtos.

Ao deparar-se frente a um determinado perigo, advindo do processo de trabalho, um agricultor responde de acordo com as suas crenças, experiências, imagens e informações construídas ao longo de sua trajetória de vida. A percepção do perigo é fruto da associação de todos estes determinantes com o cenário em que se encontra no momento (WIEDEMANN, 1993). Segundo ainda este mesmo autor, um fato que chama a atenção é a “percepção de riscos”, qual seja, a “habilidade de interpretar uma situação de potencial dano à saúde ou à vida da pessoa, ou de terceiros, baseada em experiências anteriores e sua extrapolação para um momento futuro, habilidade esta que varia de uma vaga opinião a uma firme convicção”.

Irregularidades na prescrição e aplicação de agrotóxicos são muitas e em que pese a existência de órgãos fiscalizadores, uma ação efetiva que vá desde a capacitação do trabalhador até boas práticas de manejo da cultura ainda não constitui o foco das atenções. Vendas de produtos sem o receituário agronômico, falta de respeito ao período de carência (intervalo entre a última aplicação e o período de colheita), não usar equipamentos de proteção individual e descarte de embalagens usadas, são alguns exemplos de como os problemas são preocupantes.

IGBEDIOH (1991), relata que a exposição aos agrotóxicos por longo tempo em homens, plantas e animais tem efeitos nocivos e indesejáveis. Aponta como medidas para redução de riscos na sua utilização: a educação e treinamento dos agricultores, a regulação da propaganda, a limitação do uso de substâncias altamente tóxicas, o monitoramento da população mais exposta ao agrotóxico e a inspeção dos produtos nas lojas de venda e no campo. Esta é uma proposta lógica e que deve ser acompanhada de um amplo programa de esclarecimento, pois principalmente no tocante a utilização de agrotóxicos, deve ser levada em conta a necessidade de aplicação, a segurança do trabalhador rural e sua família e a saúde do consumidor.

Segundo TRAPÉ (1993), ocorreram no mundo cerca de três milhões de intoxicações agudas por agrotóxicos, com 220 mil mortes por ano. Destas, cerca de 70% se dão em países do chamado Terceiro Mundo. Além da intoxicação dos trabalhadores que têm contato direto ou indireto com esses produtos, a contaminação de alimentos tem causado intoxicações e mortes.

No Brasil e em particular em Pernambuco, não existe um efetivo sistema de monitoramento dos agrotóxicos, quer do efeito no meio ambiente, quer na saúde dos trabalhadores rurais. De forma geral, falta informação, orientação técnica e educação para os trabalhadores e produtores rurais com relação à saúde, agricultura, trabalho e ambiente (SILVA et al, 2000).



Material e Métodos

O trabalho foi conduzido no município de Jardim-Ce, no distrito de Novo Horizonte (antiga cacimba), com agricultores familiares que utilizam agrotóxicos em seus plantios. A pesquisa de campo (fase exploratória) compreendeu o diagnóstico inicial da situação local, baseado em observação participante de características do ambiente, relações sociais, processos de trabalho e relações de poder em nível local, entre outros aspectos.

A metodologia utilizada para a pesquisa foi de caráter qualitativo e quantitativo. A combinação dessas metodologias permitiu a investigação das práticas de uso dos agrotóxicos, e de impactos causados na saúde do trabalhador e no ambiente. O instrumento de coleta de informação foi através de entrevista semi-estruturada. A entrevista semi-estruturada foi aplicada aos agricultores através de questionários, os quais foram aplicados no campo, e divididos em dois segmentos para compreensão do objeto de estudo. No primeiro segmento, tabularam-se dados sobre o perfil socioeconômico-ambiental dos entrevistados e as suas práticas de uso dos agrotóxicos; no segundo segmento, mais qualitativo, investigou- se a percepção de riscos no tocante à utilização dos mesmos. Foram realizadas vinte entrevistas no período referente a junho a julho de 2010.

Resultados e Discussão

Em sua totalidade, os agricultores entrevistados cultivam milho, feijão caupi, mandioca e mamona. No tocante a ATER por parte da Ematerce, apenas 15,38% dos agricultores recebem assistência do órgão estadual de extensão. Este fato por si só, já é um fator bastante negativo no que diz respeito a uma utilização mais racional de agrotóxicos nos plantios existentes, pois de acordo com essa situação, muitos são os problemas que ocorrem em campo. Com base nos resultados obtidos, evidencia-se que os trabalhadores da região investigada, assim como alguns técnicos com estes envolvidos, não levam em conta uma importante fonte de contaminação ambiental, no que diz respeito aos mananciais de água na região.

No que diz respeito ao sindicato dos trabalhadores rurais, (92,30%) são associados, no entanto o sindicato pouco ajuda na questão do uso indiscriminado de agrotóxico. Não existe a mínima orientação no que diz respeito ao uso de agrotóxico, nem muito menos de meios alternativos de prevenção de doenças e pragas. Segundo resposta às indagações, não existe mistura de agrotóxicos e muito menos aplicação preventiva. TUCKER & NAPIER (2001), afirmam que pelo fato de os pequenos produtores rurais determinarem o tipo de proteção química usada em seus sistemas de produção, eles costumam enxergar o uso de agrotóxicos como voluntário e familiar (no sentido de ser comum ao seu cotidiano), especialmente devido à extensa experiência que adquiriram ao longos dos anos com o intenso e massivo uso desses produtos.

Quanto à confiabilidade dos resultados obtidos pela aplicação dos agrotóxicos, todos foram unânimes em afirmar têm confiança no produto, muito embora não tenham parâmetros para afirmar tal assertiva. A aquisição dos agrotóxicos é feita em revendas agropecuárias (100%), sem utilização do receituário agronômico (100%) e a maioria (92,30%) é recomendado pelos vendedores e o restante (7,70%) indicado por técnicos do sistema de extensão rural. Quando perguntados se quem vende os agrotóxicos são agrônomos, responderam que (69,23%) não sabe e (30,76%) são agrônomos. Segundo as respostas obtidas, os agricultores não entendem as recomendações do produto e de um modo geral, nenhum deles utiliza equipamento de proteção individual, colocando em risco a própria vida. O resultado é que (100%) preparam as caldas sem nenhuma segurança, pondo em risco a própria vida. Os agricultores reconhecem que a aplicação de agrotóxico é uma atividade perigosa, embora desconheçam os limites deste risco em função da invisibilidade do problema.

Quanto à freqüência de aplicação, responderam que: (30,76%) realizam uma aplicação no ciclo da cultura do feijão, (46,15%) duas vezes, (15,38%) três vezes e o restante quatro vezes. Todos foram unânimes em afirmar que não sabem o que é o período de carência de um produto e que preparam as caldas no próprio pulverizador e que as roupas são lavadas em casa junto com as outras.

Conclusões

Com base nos resultados obtidos, verifica-se uma situação de grande risco para aplicadores e para o meio ambiente, pois não existe orientação, muito menos capacitação técnica para os agricultores e o desconhecimento sobre a realidade do uso de agrotóxicos é a regra, quadro esse não muito diferente de outras regiões do Estado do Ceará. Não existe fiscalização sobre a emissão de receituário agronômico, muito menos fiscalização de órgãos competentes.

O uso freqüente de agrotóxicos por parte desses agricultores reforça a necessidade de pesquisas que aprofundem metodologias para avaliar se realmente se faz necessária a aplicação destes produtos, bem como avaliar com maior precisão a exposição aos agrotóxicos e os riscos associados a estes produtos

Sugere-se, a partir dos dados obtidos, a implantação de um programa integrado de avaliação e controle de agrotóxicos na região, tornando mais ágeis e objetivas as estratégias de intervenção que, conduzam a produção de alimentos sem utilização de tais produtos.



Referências Bibliográficas



BRUM, A. J., 1988. Modernização da Agricultura de Trigo e Soja. Petrópolis: Editora Vozes.

Fairbanks M. Defensivos agrícolas ampliam o mercado. Revista Química e Derivados 2001; 396: 398-403.

Igbedioh SO 1991. Effects of agricultural pesticides on humans, animal and higher plants in developing countries. Archives of Environmental Health 46(4): 218-223.

Peres F, Moreira JC. É veneno ou é remédio? Agrotóxicos, saúde e ambiente. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz; 2003.

Wiedemann PM. Introduction risk perception and risk communication. Jülich: Programme Group Humans; Environment, Technology (MUT), Research Centre Jülich; 1993. (Arbeiten zur Risko- Kommunikation 38).

Trapé AZ 1993. O caso dos agrotóxicos, pp. 565-593. In Rocha et al. Isto é trabalho de gente? Vida, doença e trabalho no Brasil. Ed. Vozes, Petrópolis.

Tucker M, Napier TL. Determinants of perceived agricultural chemical risk in three watersheds in

the Midwestern United States. J Rural Stud 2001; 17:219-33