SUPERDOSAGEM
DE ´VENENO´
02.03.2013
Operação apreendeu 30 toneladas de
químicos na Ibiapaba; alimentos abastecem a maioria dos fortalezenses
Que comida chega hoje à mesa do fortalezense? Conforme relatório da operação "Mata Fresca", divulgado ontem, a resposta é clara: veneno puro, agrotóxico. O motivo é a superdosagem da aplicação em frutas e verduras. Após vistoria na Ibiapaba, uma das regiões de abastecimento da Capital, revelou-se que 81% desses produtores rurais estão fazendo mau uso dos químicos, foram multados, juntos, em R$ 58 mil em três únicos dias de vistorias.
Um dos problemas mais graves é o fato de o agricultor ter que lidar com os químicos sem os equipamentos individuais de proteção adequados
Mais de 30 toneladas de agrotóxicos foram apreendidos após verificação de venda ilegal, armazenamento e descarte irregular, produtos fora da validade e usados em grande excesso, mistura inadequada de químicos e ausência de equipamentos de proteção nos agricultores. Tudo gerando mil riscos para quem se alimenta e também manipula.
Segundo a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) pelo menos 30% dos alimentos que o brasileiro consome têm substâncias com níveis acima do permitido. O País é o maior consumidor de "veneno" do mundo.
A operação reuniu uma equipe multidisciplinar de 20 técnicos do grupo de trabalho constituído do Conselho Gestor do Fundo de Defesa dos Direitos Difusos do Ministério Público Ceará (MPE). Ação ocorreu simultaneamente em sete municípios críticos: Viçosa do Ceará, Tianguá, Ibiapina, Guaraciaba do Norte, São Benedito, Ubajara e Ipu. Dos 22 produtores visitados, 18 estavam usando os produtos de forma irregular e 38% de um total de 13 estabelecimentos comerciais foram multados.
Relato de um desses agricultores da Ibiapaba é bem revelador da crítica situação. "Eu até como o tomate para não morrer de fome, mas não tenho coragem alguma de dar para o meu filho porque sei que faz muito mal".
No dia 28 de agosto de 2012, o Diário do Nordeste já relatava o aumento do número de diagnósticos de câncer entre os agricultores
Outra denúncia grave é a poluição de mananciais, nascentes que deveriam estar abastecendo as cidades estão, sim, causando doenças, disseminando veneno. Problemática mais agravada em anos de escassez de chuvas.
Para Vanja Fontenele Pontes, procuradora de Justiça do Estado do Ceará, essa operação foi um sucesso e espera-se que haja uma mudança de comportamento, um uso mais racional e adequado desses agrotóxicos. "O maior problema hoje é a utilização exagerada desses químicos nos alimentos. Isso leva a grandes enfermidades", afirma.
Para ela, todas as medidas judiciais serão tomadas para evitar que irregularidades continuem. Há que se fazer, além da punição, uma "sedução do produtor para a causa" a fim de que ele não rescinda no crime ambiental e possa ser um multiplicador de boas práticas no campo.
No próximo dia 20, essa equipe integrante da operação "Mata Fresca" irá se reunir na Procuradoria Geral de Justiça (PGJ) para avaliar os resultados, planejar novas ações, mensurar as sanções, punições e pensar também estratégias de monitoramento.
Conforme o presidente da Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Ceará (Adagri), Francisco Augusto de Souza Júnior, um dos problemas mais graves é a contaminação direta do agricultor que tem que lidar no cotidiano com os químicos. "Fazemos a fiscalização do uso dos equipamentos de proteção especial, mas eles não usam. Estão sempre expostos, adoecendo".
Essa denúncias não são novas. Levaram ao assassinato, em 2010, do líder comunitário José Maria Filho. Em matéria divulgada no Diário do Nordeste, em 2012, já se relatava o aumento dos diagnósticos de câncer nos agricultores de Limoeiro, Russas e Quixeré. Estudos registraram aumento de 38% nos casos, conforme recente estudo da Universidade Federal do Ceará (UFC).
Para o presidente interino do Conselho de Políticas de e Gestão do Meio Ambiente do Ceará (Conpam), Iraguassu Teixeira Filho, há que, além de se fiscalizar, realizar também ações de assistência técnica aos pequenos produtores. "Temos que agir em várias vertentes, tem que se fazer uso consciente, acompanhado".
Compreendendo, no entanto, que o problema não se restringe ao Ceará e à Ibiapaba, o fiscal Federal Agropecuário, Francisco Leandro de Paula Neto, sugere que "novas ações devem ser levadas para outros locais como Cariri, Vale do Jaguaribe e Acaraú". Para Leandro, há que se cobrar melhoria na fiscalização e punição dos responsáveis.
IVNA GIRÃO
REPÓRTER
Que comida chega hoje à mesa do fortalezense? Conforme relatório da operação "Mata Fresca", divulgado ontem, a resposta é clara: veneno puro, agrotóxico. O motivo é a superdosagem da aplicação em frutas e verduras. Após vistoria na Ibiapaba, uma das regiões de abastecimento da Capital, revelou-se que 81% desses produtores rurais estão fazendo mau uso dos químicos, foram multados, juntos, em R$ 58 mil em três únicos dias de vistorias.
Um dos problemas mais graves é o fato de o agricultor ter que lidar com os químicos sem os equipamentos individuais de proteção adequados
Mais de 30 toneladas de agrotóxicos foram apreendidos após verificação de venda ilegal, armazenamento e descarte irregular, produtos fora da validade e usados em grande excesso, mistura inadequada de químicos e ausência de equipamentos de proteção nos agricultores. Tudo gerando mil riscos para quem se alimenta e também manipula.
Segundo a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) pelo menos 30% dos alimentos que o brasileiro consome têm substâncias com níveis acima do permitido. O País é o maior consumidor de "veneno" do mundo.
A operação reuniu uma equipe multidisciplinar de 20 técnicos do grupo de trabalho constituído do Conselho Gestor do Fundo de Defesa dos Direitos Difusos do Ministério Público Ceará (MPE). Ação ocorreu simultaneamente em sete municípios críticos: Viçosa do Ceará, Tianguá, Ibiapina, Guaraciaba do Norte, São Benedito, Ubajara e Ipu. Dos 22 produtores visitados, 18 estavam usando os produtos de forma irregular e 38% de um total de 13 estabelecimentos comerciais foram multados.
Relato de um desses agricultores da Ibiapaba é bem revelador da crítica situação. "Eu até como o tomate para não morrer de fome, mas não tenho coragem alguma de dar para o meu filho porque sei que faz muito mal".
No dia 28 de agosto de 2012, o Diário do Nordeste já relatava o aumento do número de diagnósticos de câncer entre os agricultores
Outra denúncia grave é a poluição de mananciais, nascentes que deveriam estar abastecendo as cidades estão, sim, causando doenças, disseminando veneno. Problemática mais agravada em anos de escassez de chuvas.
Para Vanja Fontenele Pontes, procuradora de Justiça do Estado do Ceará, essa operação foi um sucesso e espera-se que haja uma mudança de comportamento, um uso mais racional e adequado desses agrotóxicos. "O maior problema hoje é a utilização exagerada desses químicos nos alimentos. Isso leva a grandes enfermidades", afirma.
Para ela, todas as medidas judiciais serão tomadas para evitar que irregularidades continuem. Há que se fazer, além da punição, uma "sedução do produtor para a causa" a fim de que ele não rescinda no crime ambiental e possa ser um multiplicador de boas práticas no campo.
No próximo dia 20, essa equipe integrante da operação "Mata Fresca" irá se reunir na Procuradoria Geral de Justiça (PGJ) para avaliar os resultados, planejar novas ações, mensurar as sanções, punições e pensar também estratégias de monitoramento.
Conforme o presidente da Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Ceará (Adagri), Francisco Augusto de Souza Júnior, um dos problemas mais graves é a contaminação direta do agricultor que tem que lidar no cotidiano com os químicos. "Fazemos a fiscalização do uso dos equipamentos de proteção especial, mas eles não usam. Estão sempre expostos, adoecendo".
Essa denúncias não são novas. Levaram ao assassinato, em 2010, do líder comunitário José Maria Filho. Em matéria divulgada no Diário do Nordeste, em 2012, já se relatava o aumento dos diagnósticos de câncer nos agricultores de Limoeiro, Russas e Quixeré. Estudos registraram aumento de 38% nos casos, conforme recente estudo da Universidade Federal do Ceará (UFC).
Para o presidente interino do Conselho de Políticas de e Gestão do Meio Ambiente do Ceará (Conpam), Iraguassu Teixeira Filho, há que, além de se fiscalizar, realizar também ações de assistência técnica aos pequenos produtores. "Temos que agir em várias vertentes, tem que se fazer uso consciente, acompanhado".
Compreendendo, no entanto, que o problema não se restringe ao Ceará e à Ibiapaba, o fiscal Federal Agropecuário, Francisco Leandro de Paula Neto, sugere que "novas ações devem ser levadas para outros locais como Cariri, Vale do Jaguaribe e Acaraú". Para Leandro, há que se cobrar melhoria na fiscalização e punição dos responsáveis.
IVNA GIRÃO
REPÓRTER
Fonte: Jornal Diário
do Nordeste edição 02/03/2013
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