sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Ocorrência do nematóide Meloidogyne mayaguensis na cultura da goiabeira e medidas de manejo fitossanitário

Ocorrência do nematóide Meloidogyne mayaguensis na cultura da goiabeira e medidas de manejo fitossanitário


foto créditos: Iapar
Joaquim Torres Filho [1], Erlan Weine L Teixeira ²,



1] Professor adjunto do Curso de Agronomia do Campus da UFC no Cariri. joaquim.torres@ufc.br

[2] Aluno do Curso de Agronomia do Campus da UFC no Cariri.– e-mail: weine-x@hotmail.com



Resumo

Meloidogyne mayaguensis, é um fator limitante na produção de goiabas. As perdas devidas ao ataque de nematóides na agricultura mundial são estimadas em aproximadamente US$ 80 bilhões/ano. Assinalado pela primeira vez em Petrolina-Pe, esse fitonematóide espalhou-se por quase todo o Brasil, inclusive no Estado do Ceará, através de mudas oriundas do estado de Pernambuco. Em visita de inspeção técnica realizada no mês de junho de 2009 ao assentamento Estrela no município de Barbalha, detectou-se grave infestação do nematóide Meloidogyne mayaguensis na cultura da goiabeira. O presente trabalho tem por objetivo fazer o registro de novos focos desta fitomoléstia e contribuir para o esclarecimento das medidas de manejo integrado que devem ser implementadas para evitar prejuízos maiores aos agricultores, além de contribuir com estudo da epidemiologia desse patógeno e alertar agricultores sobre o risco que representa na aquisição de mudas infectadas com M. mayaguensis
Palavras-chave: goiabeira; nematóide; Meloidogyne; manejo.




Introdução

Uma característica do cultivo da goiabeira no Brasil é que a exploração se dá em sua grande maioria por agricultores familiares em pequenas áreas de até 3 há.. Isto demonstra que essa cultura, como a maioria das culturas frutiferas, é uma boa alternativa para os pequenos proprietários, contribuindo de sobremaneira para valorizar o trabalho dos agricultores familiares (GOMES, 2007). A produção dessa fruta se concentra nos Estados de São Paulo, Pernambuco, Rio de Janeiro, Ceará, Rio Grande do Norte e Parana (PEREIRA et al., 1983).

As perdas devidas ao ataque de nematóides na agricultura mundial são estimadas em aproximadamente US$ 80 bilhões/ano. A quantificação de perdas no Brasil não e precisa devido principalmente às interações com danos provocados por pragas e outras doenças, condições climáticas adversas, presença de plantas invasoras e inadequação de tratos culturais (RITZINGER e FANCELLI, 2006).

Meloidogyne mayaguensis foi assinalado pela primeira vez no Brasil em Petrolina (PE), Curaçá e Maniçoba (BA), causando danos severos em plantios comerciais de goiabeira (CARNEIRO, 2001). (Anais do XXIV Congresso Brasileiro de Nematologia, p. 22, 2003). Em seguida, este patógeno foi assinalado em vários estados: Rio de Janeiro (LIMA et al., 2003), de São Paulo (ALMEIDA et al., 2006; TORRES et al., 2005), do Rio Grande do Norte (Torres et al., 2004), do Ceara (TORRES et al., 2005), do Espirito Santo (LIMA et al., 2007), do Paraná (CARNEIRO et al., 2006), do Mato Grosso (Soares et al., 2007), do Mato Grosso do Sul (Asmus et al., 2007), de Santa Catarina (Gomes et al., 2008), do Rio Grande do Sul (GOMES et al., 2008).

É uma espécie polífaga, de alta virulência, com potencial de multiplicação superior a M. incognita (Kofoid & White) Chitwood em cultivares suscetíveis de tomateiro, sendo capaz de vencer a resistência da cultivar Rossol de tomateiro portadora do gene Mi, e também de batata-doce. incognita, M. javanica (Treub) Chitwood e M. arenaria (Neal) Chitwood (CARNEIRO et al., 2001). Um dos maiores problemas fitossanitários que afeta a goiabeira é causado pelo nematóide das galhas, Meloidogyne spp., que é um fator limitante a produção de goiaba em países da América do Sul (EL BORAI; DUCAN, 2005). No Brasil, CARNEIRO et al (2001) descreveram corretamente como Meloidogyne mayaguensis RAMMAH & HIRSCHMANN (1988) como o agente causal da meloidoginose da goiabeira. No Espírito Santo LIMA et al, (2007), fizeram o primeiro registro da ocorrência desse patógeno em pomares comerciais no município de Pedro Canário.

Em visita de inspeção técnica realizada no mês de junho de 2009 ao assentamento Estrela no município de Barbalha, detectou-se grave infestação do nematóide Meloidogyne mayaguensis na cultura da goiabeira. O presente trabalho tem por objetivo fazer o registro de novos focos desta fitomoléstia e contribuir para o esclarecimento das medidas de manejo integrado que devem ser implementadas para evitar prejuízos maiores aos agricultores, além de contribuir com estudo da epidemiologia desse patógeno e alertar agricultores sobre o risco que representa na aquisição de mudas infectadas com M. mayaguensis.



Material e Métodos

A constatação desta fitonematose se deu no município de Barbalha na região metropolitana do Cariri no Assentamento Estrela por ocasião de uma visita técnica demandada pelo serviço de Extensão rural. A metodologia constou de exame do quadro sintomatológico nas folhas e nas raízes e coleta de raízes para análise laboratorial. Em campo foram observados os sintomas apresentados, como é o caso do bronzeamento das bordas foliares e/ou amarelecimento total da parte aérea, além da presença de desfolha e da coloração acinzentada do tronco ou ramos principais. As observações e coletas de material foram realizadas em caminhamento aleatório com retirada de amostras de solo e raízes da rizosfera da goiabeira as quais foram encaminhadas para análise laboratorial. No campo foi feito exame visual nas raízes para observação da presença de galhas.

Resultados e Discussão

A análise baseada no quadro sintomatológico e nas raízes com galhas com ovos e larvas do nematóide confirmou a presença do nematóide M. mayaguensis na região. Segundo informações do sistema de extensão rural do Estado do Ceará – Ematerce -, as mudas que originaram o plantio já foram adquiridas de Petrolina contaminadas e o problema encontra-se generalizado na região. Essa argumentação é reforçada por Torres et al. (2007), que citam que a expansão das áreas contaminadas no nordeste está relacionada com o plantio de mudas contaminadas provenientes do município de Petrolina-PE.

Essa é uma situação preocupante, pois a grande maioria dos plantios é realizada através de financiamento – PRONAF – levando a uma grande inadimplência dos agricultores em virtude da queda da produção verificada. TORRES et al. (2007) citam que uma das formas de evitar a disseminação do patógeno seria a conscientização dos produtores quanto à necessidade de aquisição de mudas certificadas e envio de amostras de solo e de tecido vegetal para laboratórios credenciados pelo Ministério da Agricultura, quando da instalação de pomares ou do surgimento de sintomas de causa desconhecida. Essa seria uma medida que de pronto já poderia ser aplicada pelas instituições financeiras no caso de novos contratos de financiamentos.

Uma ação mais eficaz dos órgãos de fiscalização federal e estadual seria a instalação de barreiras fitossanitárias com o objetivo de aplicar as leis e cobrar documentação necessária ao trânsito de materiais de goiabeira oriundos de outros estados e dentro do próprio estado.

No tocante a sintomatologia, foram observados na parte aérea: bronzeamento,amarelecimento,

queima dos bordos e queda das folhas. Nas raízes a presença de galhas e em alguns casos em estágio avançado o apodrecimento com sintomas reflexos na parte aérea de queda das folhas e declínio generalizado da planta.

Tendo em vista o problema identificado a opção de erradicação do plantio, que proporciona redução em até 80% da população do nematóide, com a queima das raízes, seguido de alqueive e pousio do solo, com arações e gradagens seguido do plantio de plantas antagonistas como Crotalaria ou mucuna em consórcio com o milho, contribui para reduzir substancialmente a população de nematóides do solo, além de fornecer renda extra com a produção de milho. A mucuna-preta tem apresentado resultados promissores no controle de Meloidogyne spp e, quando utilizada em sistemas de rotação de culturas pode ter efeito nematicida (Carvalho e Amabille, 2006).

É importante mencionar que a área afetada deve ser de todo isolada para evitar maior disseminação do nematóide. Para novos plantios, ao adquirir as mudas, observar se o produtor de mudas é certificado e enviar amostra para inspeção em laboratório. Evitar o plantio em áreas já cultivadas com a cultura da goiabeira. Melhorar o manejo da cultura com a utilização de compostagem agregada de uma boa adubação química proporciona resultados excelentes no controle de nematóide das galhas. Gomes et al. (2008) conduziram experimentos em pomares de goiabeira ‘Paluma’ com um e sete anos de idade infestados com M. mayaguensis com aplicação de esterco de curral, bagaço de cana adicionado de torta de filtro, adubação mineral e resíduo de abatedouro avícola. Os autores observaram que o composto residual de abatedouro avícola e o esterco bovino apresentaram potencial para o manejo de M. mayaguensis.



Conclusões

Em visita técnica por solicitação da Ematerce regional Cariri, constatou-se no assentamento Estrela no município de Barbalha a presença de plantas de goiaba apresentando quadro sintomatológico de fitonematose causada por M. mayaguensis.

Com base nas observações de campo e de laboratório, constata-se que o quadro do cultivo de goiabeira na região do Cariri se encontra ameaçado com a incidência dessa fitonematose. Medidas de manejo para essa doença passam necessariamente pela erradicação total de pomares contaminados, com a aplicação de práticas de alqueive e pousio do solo, com arações e gradagens e plantio consorciado de Crotalaria, mucuna ou cravo de defunto com a cultura do milho, esta última com o intuito de proporcionar uma renda para o agricultor.

Por outro lado, a agência de defesa agropecuária do estado do Ceará deve implementar reforço nas barreiras fitossanitárias para controle de materiais oriundos de outros estados e que possam aumentar ainda mais a disseminação do nematóide.



Agradecimentos

Os autores agradecem ao apoio dos técnicos do escritório da Ematerce de Barbalha e dos agricultores do assentamento Estrela.



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