ELEMENTOS DE UMA EPIDEMIA
Sabe-se que na natureza existe um equilíbrio entre o hospedeiro-patógeno em íntima relação com o ambiente. A ação do homem sobre a planta hospedeira, ambiente e o patógeno pode romper essa condição de equilíbrio, pela introdução de novas espécies ou produção de novas variedades mais produtivas, suscetíveis ou resistentes a doenças, como também, alterando a densidade de plantas por área e, portanto, tornando-as mais vulneráveis ou predispostas ao ataque de patógenos. Dentre os fatores que exercem influência sobre o desenvolvimento de doenças de forma epidêmica destacam-se: 1. O ambiente, atuando sobre a planta hospedeira, sobre o patógeno e sobre a interação hospedeiro-patógeno; 2. O hospedeiro; 3. O patógeno.
O Ambiente
O ambiente é visto como o conjunto de fatores climáticos e edáficos que envolvem o sistema patógeno-hospedeiro, exercendo importante papel sobre as doenças. A planta hospedeira, patógeno e o ambiente representam três elementos essenciais na determinação da ocorrência de doença, sua incidência e severidade, relacionando-se mutuamente.
a) Efeito do ambiente sobre a planta hospedeira
A predisposição das plantas aos patógenos pode ser influenciada pela umidade, temperatura e fertilidade do solo, considerados como principais fatores do ambiente. A nutrição da planta, principalmente em relação aos macronutrientes N,P,K, e a disponibilidade desses nutrientes no solo são de fundamental importância no aumento ou redução da predisposição da planta à doenças, dependendo do balanço entre os teores de nutrientes. Alguns patógenos são mais severos quando as plantas estão subnutridas, enquanto outros preferem o contrário. Sabe-se que teores elevados de N tendem a aumentar a suscetibilidade, enquanto teores elevados de K reduzem a suscetibilidade da planta a muitas doenças. Este fato, pode ser relacionado com a
variação nos mecanismos bioquímicos de defesa da planta hospedeira, variação nos elementos estruturais do hospedeiro, como exemplo, da parede celular e, ainda, influenciando as reservas de alimento do hospedeiro disponível ao patógeno.
A suscetibilidade ou resistência ocorre dentro dos limites de uma faixa de variação, a qual é determinada pelos fatores que influenciam o estado fisiológico da planta, tornando-a mais, ou menos sujeita ao ataque do patógeno. Em condições ideais para o crescimento da planta, ela é capaz de tolerar certo grau de infecção. Entretanto, em condições menos favoráveis, a planta torna-se predisposta a infecção e é menos capaz de tolerar a infecção.
b) Efeito do ambiente sobre o patógeno
A severidade de uma doença, distribuição e incidência estão condicionadas à ação do ambiente sobre o patógeno. O ambiente poderá atuar diretamente sobre o patógeno nas fases de germinação e penetração no hospedeiro e, também, indiretamente sobre os patógenos habitantes do solo, ao influenciar a população de microrganismos do solo, os quais exercem ação antagônica sobre os agentes fitopatogênicos.
Os esporos de muitos fungos são liberados no ar e podem ser disseminados pelo vento a curta ou longa distância e, também, por insetos. Patógenos que são disseminados pelos respingos de chuva levados pelo vento, são anualmente responsáveis por epidemias severas, porém localizadas em determinadas áreas de cultivo. Por outro lado, os patógenos presentes no solo e disseminados através do solo, são geralmente incapazes de causar uma epidemia de forma súbita, atingindo extensa área. Devido à disseminação vagarosa, a ocorrência de uma epidemia vai depender do inóculo acumulado no solo. Patógenos transportados por sementes ou material propagativo, como túberas ou bulbos, poderão desencadear uma epidemia, dependendo da quantidade de inóculo lançado no solo por ocasião do plantio.
Efeito do ambiente sobre a interação patógeno-hospedeiro
Após o patógeno se estabelecer no hospedeiro, o ambiente irá também afetar a doença atuando sobre os dois componentes da interação, patógeno e hospedeiro. Do mesmo modo, o ambiente poderá afetar a reprodução do patogeno. Muitos fungos só produzem estruturas de reprodução sob condições de alta umidade relativa do ar e temperatura adequada. O ambiente também exerce efeito sobre a duração do período entre a penetração e a produção de novas estruturas de reprodução do patógeno, cujo período pode ser mais prolongado se as condições de temperatura e umidade forem desfavoráveis à infecção.
O clima representa um dos fatores determinantes da distribuição geográfica dos fitopatógenos, sendo a umidade e temperatura os fatores que governam essa distribuição. A alta umidade é o fator predominante no desenvolvimento de uma epidemia, porque promove o crescimento de tecidos novos e suculentos no hospedeiro, além de aumentar a esporulação do patógeno, permitindo a ocorrência de doenças. Por outro lado, a ausência de umidade, mesmo por alguns dias, pode interromper o ciclo da doença. Algumas doenças, são mais severas em condições secas do que úmidas, como exemplo, as causadas por Fusarium, porém raramente ocorrem de forma epidêmica.
A temperatura também reduz a quantidade de inóculo de fungos, sendo mais comum o seu efeito sobre o patógeno durante as várias fases da patogênese, ou seja, germinação de esporos, penetração e colonização do tecido hospedeiro, reprodução, etc., não completando o patógeno o seu ciclo de vida, em temperatura desfavorável.
Em qualquer região em particular há uma média de temperatura e precipitação para cada estação do ano, determinando o clima daquela região e limitando a localização geográfica, dentro da qual o patógeno pode sobreviver com sucesso.
Há quatro combinações de temperatura e umidade que favorecem um grande número de doenças e seus agentes causais: quente e seco, quente e úmido, frio e seco, frio e úmido (Kenaga, 1974).
O Hospedeiro
O nível de resistência genética ou a suscetibilidade do hospedeiro, como também a uniformidade genética do hospedeiro, desempenham importante papel nas ocorrências de doenças de forma epidêmica. Plantas com alto nível de resistência não permitem o estabelecimento do patógeno e, portanto, impedem o desenvolvimento de doenças, a não ser que haja o surgimento de uma nova raça do patógeno capaz de atacar esse hospedeiro, e que todas as condições do ambiente sejam favoráveis a interação planta-patógeno.
Quando plantas hospedeiras, geneticamente uniformes, principalmente em relação aos genes de resistência à doença, são cultivadas em grandes áreas, existe o grande risco do aparecimento de uma nova raça do patógeno capaz de atacar o genoma daquela espécie hospedeira, resultando numa epidemia. A taxa mais alta de desenvolvimento de epidemias, geralmente ocorre em culturas propagadas vegetativamente e, também, em culturas autopolinizadas, enquanto culturas de polinização cruzada parecem ter uma taxa mais baixa de epidemias (Agrios, 1988).
3. O Patógeno
Dos fatores do patógeno que contribuem para a ocorrência de epidemias, destaca-se o nível de virulência, a quantidade de inóculo no hospedeiro, a velocidade de reprodução e a disseminação eficiente.
O patógeno virulento com capacidade de infectar mais rapidamente a planta hospedeira, garante maior produção de inóculo, do que os patógenos menos virulentos. Portanto, o maior número de propágulos produzidos, alcançando a superfície do hospedeiro, aumenta a chance da ocorrência de uma epidemia.
Os patógenos que têm ciclos curtos de modo a produzir várias gerações numa mesma estação de cultivo da planta hospedeira, servindo esta como fonte de inóculo para outras plantas no mesmo período, são chamados de policíclicos. As doenças causadas por estes patógenos são chamadas de doenças de ciclos secundários ou de "juros compostos". Por outro lado, os patógenos que se reproduzem vagarosamente, de modo a produzir poucos ciclos reprodutivos numa mesma estação de cultivo do hospedeiro, são chamados de patógenos monocíclicos e as doenças causadas por estes patógenos são chamadas de doenças de ciclo primário ou de "juros simples" (Van der Plank 1963). A quantidade de inóculo no campo vai acumulando com o passar do tempo. Ex.: as fusarioses.
Eng. Agrôn., Pós-Doctor, UFRPE. E-mail: menezes@truenet.com.br
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