sexta-feira, 26 de junho de 2009

PATOLOGIA PÓS-COLHEITA E ANOMALIAS FISIOLÓGICAS EM FRUTAS E HORTALIÇAS NA MICRORREGIÃO DO CARIRI CEARENSE*




INTRODUÇÃO

A demanda mundial por frutas e hortaliças vem crescendo expressivamente nos últimos anos, em virtude, principalmente, da conscientização da população acerca da importância de uma alimentação saudável e do reconhecimento de sua participação na preservação de várias patologias.
O Brasil tem se destacado como importante produtor, consumidor e exportador, de frutas e hortaliças. Expandindo o agronegócio e buscando adequação ao mercado consumidor. No entanto, o volume de exportação ainda é pequeno, principalmente, em vista do elevado volume de perdas, estimado em 10 milhões de toneladas/ano, correspondendo a 30-40% da produção (IBRAF, 2005).
Danos mecânicos, mudanças físicas e fisiológicas predispõem as frutas ou hortaliças ao ataque de microrganismos, cujo crescimento é favorecido quando as temperaturas e umidades são propícias ao desenvolvimento do patógeno.
Embora os índices estimados de perdas apresentem dados subjetivos e muitas vezes divergentes, são consensuais quanto à ocorrência de perdas significativas que podem ser evitadas, desde que medidas específicas sejam adotadas para identificá-las e reduzilas (GOMES, 1996).
De acordo com KADER (2002), a redução das perdas em pós-colheita na cadeia produtiva de frutas e hortaliças representa um constante desafio, considerando que as frutas são órgãos que apresentam alto teor de água e nutrientes e, mesmo depois da colheita até a senescência, mantêm vários processos biológicos em atividade, apresentando desta forma maior predisposição a distúrbios fisiológicos, danos mecânicos e ocorrência de podridões e outras patologias.
As infecções pré-colheita podem ocorrer via epiderme, com a penetração direta do patógeno através da cutícula intacta, ou através de aberturas naturais na superfície das frutas, como as lenticelas. No entanto, muitas doenças são iniciadas através de ferimentos ocorridos durante ou após a colheita. A ocorrência de invasão limitada de patógenos em pré-colheita, seguida de um período de quiescência, que se estende até as frutas e hortaliças serem colhidas ou iniciarem o amadurecimento, é uma importante fonte de inoculo para as mesmas na pós-colheita.
As infecções quiescentes podem iniciar em qualquer estádio de desenvolvimento da fruta na planta, ocorrendo à inibição do desenvolvimento do patógenos através de condições fisiológicas impostas pelo hospedeiro, até que o estágio de maturação da fruta tenha sido alcançado e/ou a respiração climatérica. A ocorrência e a manutenção dos patógenos em quiescência sobre o hospedeiro ou dentro do mesmo indicam um equilíbrio dinâmico entre hospedeiro, patógeno e meio-ambiente. O patógeno no estágio de quiescência mantém baixo nível de metabolismo, entretanto, pode ativar fatores de patogenicidade que resultam em parasitismo ativo nos tecidos do hospedeiro. Mudanças fisiológicas normais do hospedeiro, manuseio incorreto ou condições ambientais adversas podem disparar a transição da fase de quiescência para agressiva, promovendo o desenvolvimento da doença.

MATERIAL E MÉTODOS
A terminologia de Zadoks (1995) foi adotada neste trabalho. Qualquer sintoma visual mensurável causado por agentes biológicos nocivos ou impactos mecânicos é denominado injúria; dano é a redução em quantidade e/ou qualidade do fruto e perda a redução financeira decorrente do dano. No entanto, em doenças pós-colheita que afetam todo o fruto, os termos injúria e dano muitas vezes são sinônimos, pois a incidência de injúria coincide com a redução em qualidade ou quantidade comercializada. Assim, o termo dano foi adotado, preferencialmente, sempre que essa generalização não comprometesse seu significado.
Foram feitas visitas à Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e Ematerce (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Ceará), com o intuito de se obter maiores informações sobre as principais doenças que ocorrem na região, para auxiliar no direcionamento das coletas. Efetuaram-se consultas bibliográficas a respeito das doenças, sua etiologia, sintomatologia e tipo de manejo, com intuito de facilitar o reconhecimento prévio das patologias no campo.
Foram coletadas frutas e verduras nas cidades de Juazeiro do Norte, Crato e Barbalha. Realizou-se um levantamento prévio dos principais locais de comercialização, com a posterior escolha. Dentre estes, temos os mercados municipais, feiras-livres e supermercados.
As amostras coletadas foram colocadas, individualmente, em sacos plásticos, fichadas com data de coleta, local e coletor e posteriormente identificados e fotografados na UFC (Universidade Federal do Ceará - Campus Cariri) no laboratório de Biologia através da microscopia ótica e com base nos sintomas observados.


RESULTADOS E DISCUSSÃO
1. Doenças pós-colheita de frutos
O padrão de invasão de microrganismos em frutas normalmente é uma infecção por um ou vários patógenos, podendo, subseqüentemente, propiciar a invasão por microrganismos saprófitas, que embora sejam pouco agressivos, sobrevivem no tecido doente ou morto, aí se instalando desde a infecção primária e aumentando os danos aos tecidos.
As doenças de plantas geralmente ocorrem sob uma ampla faixa de condições ambientais, no entanto, a intensidade e a freqüência de uma determinada doença são influenciadas pelo grau de desvio de cada condição ambiental do ponto ótimo para o desenvolvimento da doença (AGRIOS, 2005). A temperatura e a umidade relativa são as principais variáveis que influenciam na qualidade das frutas durante o armazenamento e manutenção do produto fresco, sendo a manutenção de temperatura baixa e de umidade relativa alta o meio mais eficaz de reduzir a perda de água.
1.1Doenças no Mamão
1.1.1 Doenças causadas por vírus
Foram identificadas a Meleira, agente causal, Papaya sticky disease virus (PSDV); Varíola, agente causal, Asperisporium caricae; Mancha Anelar, agente causal, Papaya ringspot virus, estirpe “Papaya” (PRSV-P).
1.1.2 Doenças causadas por fungos
Antracnose, agente causal, Colletotrichum gloeosporioides (Penz.).
1.2 Doenças no Maracujá
1.2.1 Doenças causadas por bactérias
Mancha-bacteriana, agente causal, Xanthomonas axonopodis pv. passiflorae (=Xanthomonas campestris pv. passiflorae)
1.2.2 Doenças causadas por fungos
Antracnose, agente causal, Colletotrichum gloeosporioides (Penz.).
1.3 Doenças no Abacate
1.3.1 Doenças causadas por fungos
Antracnose, agente causal, Colletotrichum gloeosporioides (Penz.);Verrugose ou Sarna agente causal: Sphaceloma perseae.
1.4 Doenças na Ata
1.4.1 Doenças causadas por fungos
Antracnose, agente causal, Colletotrichum gloeosporioides (Penz.).
1.5 Doenças nos Citrus
1.5.1 Doenças causadas por fungos
Bolor verde, agente causal, Penicillium digitatum (Pers.:Fr.)
1.6 Doenças na Manga
1.6.1 Doenças causadas por fungos
Antracnose, agente causal, Colletotrichum gloeosporioides (Penz.).
2. Doenças pós-colheita de hortaliças
As hortaliças são um grupo de plantas que apresentam uma incrível variedade de formas, tamanhos, cores e sabores. Mas, possuem uma parede celular pouco rígida e metabolismo acelerado o que favorece o ataque de patógenos.
2.1 Doenças no Tomate
2.1.1 Doenças causadas por vírus
Vírus do vira cabeça, agente causal, Nicotiana tabacum.
2.1.2 Doenças causadas por bactéria
Mancha Alternaria ou Pinta Preta, agente causal, Alternaria solani.
2.2 Doenças na Cenoura, Batata e Beterraba
2.2.1 Doenças causadas por nematóides
Nematóide-das-galhas, agente causal, Meloidogyne incognita.
2.3 Doenças na Pimenta-de-Cheiro
2.3.1Doenças causadas por fungos
Antracnose, agente causal, Colletotrichum gloeosporioides (Penz.).
3. Anomalias fisiológicas
A qualidade dos frutos e hortaliças é atribuída às suas características físicas externas (coloração da casca, tamanho e forma do fruto), e internas conferidas por um conjunto de constituintes físico-químicos e químicos da polpa, responsáveis pelo sabor, aroma e valor nutritivo. Mas, as deficiências nutricionais e outros fatores de ordem fisiológica podem comprometer a qualidade do produto final.
3.1 Lóculo aberto na beterraba, cenoura, batata, tomate
Deficiências de Boro
3.2 Podridões estilar no tomate (fundo preto)
Deficiências de Cálcio
3.3 Ombro Verde
Causado pela exposição ao sol, síntese de solanina, quando não se faz a amontoa.

3.4 Rachaduras na goiaba
Ocasionada pelo acumulo de água no fruto maduro, ainda na planta, que acarreta o rompimento das células da periderme do fruto.


CONCLUSÃO
As patologias na pós-colheita de frutos e hortaliças têm interferido diretamente na qualidade dos frutos comercializados na microrregião do cariri, tentativas de controle de doenças pós-colheita, baseadas em informações insuficientes sobre os patógenos, podem levar a pouca ou nenhuma redução do problema, bem como elevarem os custos sem um aumento substancial na qualidade dos produtos. O levantamento e os estudos epidemiológicos realizado neste trabalho envolvendo doenças pós-colheita podem permitir um maior entendimento dos patossistemas, bem como fornecer subsídios importantes para o desenvolvimento de estratégias de manejo.
As doenças causadas por microrganismos fitopatogênicos tais como, fungos, bactérias, vírus e nematóides são uma das causas mais sérias de perdas pós-colheita, tendo se destacado o fungo C. gloeosporioides, como o de ataque mais severo e maior incidências.


______


* autoria Erlan Weine L Teixeira¹; Hernandes Rufino dos Santos¹; ¹Alunos de Agronomia – Campus da UFC no Cariri/Juazeiro do Norte. erlanweine@yahoo.com.br; herndesufc@yahoo.com.br;

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Manejo Agroecológico de Doenças

Agricultura Convencional

Desequilíbrio ecológico;
Pulverizações químicas;
Desequilíbrio no metabolismo de plantas e animais;
Monocultura;
Densidade de plantio.

(*)


Agroecologia


Métodos agroecológicos buscam aplicar o princípio da prevenção, fortalecendo o solo e as plantas através da promoção do equilíbrio ecológico em todo o ambiente. O manejo agroecológico é baseado no reconhecimento da vida, do equilíbrio entre o seres vivos: humano, planta e animal, para o mais perto possível do perfeito equilíbrio ecológico de um sistema.


DUFRENOY (1936)


“Toda circunstância desfavorável a formação de nova quantidade de citoplasma, isto é, desfavorável ao crescimento celular, tende a provocar, na solução vacuolar das células, um acúmulo de compostos solúveis inutilizáveis tais como açúcares e aminoácido.”. “Este acúmulo de produtos solúveis parece favorecer a nutrição de microrganismos parasitas e, portanto, diminuir a resistência da planta às doenças parasitárias”.

(CHABOUSSOU, 1999; PASCHOAL, 1995).



Um estado predominante de proteólise nos tecidos da planta, em decorrência de diversos fatores, a exemplo da ação fisiológica do agrotóxico que inibe a proteossíntese, proporciona ao parasita, praga ou fitopatógeno, um ambiente fértil para crescerem e se multiplicarem livremente na planta.

Agroecologia: medidas preventivas


Plantio de variedades e espécies resistentes às pragas e doenças;
Plantio em épocas corretas e com variedades adaptadas ao clima e ao solo da região;


Uso da adubação orgânica;
Rotação de culturas e adubação verde.
Consorciação de culturas e manejo seletivo do mato;
Cobertura morta e plantio direto.


Uso de plantas "quebra ventos" ou de "faixas protetoras";
Nutrição equilibrada das plantas com macronutrientes e micronutrientes.


Manter diversificação de culturas na área. Normalmente os ataques se apresentam em quadros de monocultura. Uma boa gramíneas e compostas; sugestão é a utilização de leguminosas,

Conhecer as principais espécies e favorecê-las através de diversas práticas (manejo do mato nativo, adubação orgânica, preservação de fragmentos florestais, entre outros), é uma estratégia fundamental para o sucesso do controle de pragas e doenças na agricultura agroecológica.
(*) Foto: http://www.cnpab.embrapa.br/publicacoes/artigos/fazendinha.html

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Manejo cultural na prevenção de doenças de plantas


O manejo cultural é a manipulação das condições de pré-plantio e durante o desenvolvimento do hospedeiro em detrimento ao patógeno, objetivando a prevenção ou a intercepção da epidemia por outros meios que não sejam a resistência genética e o uso de pesticidas. O manejo cultural tem como objetivo reduzir o contato entre o hospedeiro suscetível e o patógeno de maneira a reduzir a taxa de infecção e o subseqüente progresso da doença.

Existem alguns princípios que norteiam a aplicação de técnicas de manejo cultural na prevenção e controle de fitomoléstias.
Os princípios que fundamentam o manejo cultural são:
a) supressão do aumento e/ou a destruição do inóculo existente;
b) escape das culturas ao ataque potencial do patógeno;
c) regulação do crescimento da planta direcionado a menor suscetibilidade

É importante mencionar, que em se tratando de manejo cultural, é deveras importante o conhecimento da biologia do patógeno, pois isto conduzirá ao entendimento de onde, como e por quanto tempo ele sobreviverá na ausência da planta hospedeira cultivada e de como pode ser racionalmente controlado.

Uma das práticas mais utilizadas no manejo cultural é a rotação de culturas, cujo efeito principal relaciona-se à fase de sobrevivência do patógeno. A rotação de culturas é o cultivo alternado de espécies vegetais diferentes no mesmo local e na mesma estação anual.
A par do conhecimento disponibilizado para os profissionais da área agronômica, e em particular para os extensionistas, o que se vê é que muitos agricultores não praticam a rotação de culturas e quando fazem, utilizam espécies vegetais da mesma família. Veja o caso de um agricultor que cultiva tomateiro e em seguida planta pimentão. Tal procedimento vai proporcionar uma situação que vai predispor as plantas do novo plantio ao ataque de patógenos, tendo em vista que muitas doenças do tomateiro também ocorrem no pimentão.

Algumas práticas culturais que podem ser adotadas:
uso de material propagativo sadio
• eliminação de plantas vivas doentes ("roguing")
• eliminação ou queima de restos de cultura
• inundação de campos e pomares
• incorporação de matéria orgânica no solo
• preparo do solo (aração)
• fertilização (nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio)

. irrigação;
• densidade de plantio;
• épocas de plantio e colheita;
• enxertia e poda;
• barreiras físicas e meios óticos para controle de vírus.


•O uso destas técnicas isoladamente quase sempre é insuficiente para chegar a um controle adequado da doença. O uso de combinações destas técnicas, aliado ao emprego de outras formas de controle de doenças, como o controle químico e o controle genético, no entanto, é altamente eficiente e recomendável.
•Durante a rotação de culturas, os fitopatógenos são eliminados parcial ou completamente, enquanto que, sob monocultura, eles são estimulados e mantidos numa concentração de inóculo suficiente para a continuidade de seu ciclo biológico, podendo causar, eventualmente, severas epidemias
Existem alguns patógenos que não podem ser controlados somente através da rotação de culturas. Serve de exemplo o fungo Rhizoctonia solani, que é capaz de viver indefinidamente no solo, pois tem a característica de poder trocar de substrato saprofítico. Em vista disso, este parasita é considerado um habitante natural da maioria dos solos. Este patógeno é dificilmente controlado pela rotação, pois, potencialmente, qualquer espécie vegetal alternativa, integrante do sistema de rotação, pode servir de substrato. Todos os patógenos com habilidade de competição saprofítica são de difícil controle por esta prática cultural.