Rosenya Michely Cintra Filgueiras¹; Tamires Coelho Matias¹; Joaquim Torres Filho²
¹Aluna do Curso de Agronomia do Campus da UFC no Cariri: e-mail: rosenya_michelycf@hotmail.com
¹Aluna do Curso de Agronomia do Campus da UFC no Cariri: e-mail: tamires.coelho@hotmail.com
²Orientador: Professor adjunto do Curso de Agronomia do Campus da UFC no Cariri: joaquim.torres@ufc.br
RESUMO
O presente trabalho foi realizado através de visitas semanais ao mercado público da cidade de Barbalha, as quais ocorreram durante o período de Maio a Julho de 2010. Este teve por objetivo a realização de inspeção relacionada aos aspectos qualitativos do fruto do maracujá, bem como, a ocorrência de danos, injúrias e doenças. Registrou-se através de fotos digitais, danos, injúrias e doenças que ocorreram. Foram aplicados questionários aos comerciantes locais, com o intuito de saber a origem dos frutos, e a rentabilidade em função da comercialização. Observou-se na pesquisa que de 13 barracas analisadas 9 apresentavam frutos de má qualidade, equivalente a um índice de 69,23%. Dentro dessa porcentagem 68% estão relacionados a doenças de pós-colheita, as quais ocorrem basicamente nas etapas de colheita, transporte e mais especificamente na fase de armazenamento. Dentre as várias doenças identificadas em pós-colheita do maracujá-amarelo, a mais importante é a antracnose, causada por Colletotrichum gloeosporioides Pens. Observou-se também, porém, em menor quantidade a incidência de verrugose (Cladosporium herbarum) e bacteriose (Xanthomonas campestris pv. passiflorae). Os outros 32% são provenientes de danos (redução qualitativa ou quantitativa da produção, que pode ou não causar perdas) e injúrias (sintomas visíveis e/ou mensuráveis ocasionados por um agente biótico ou abiótico). Com base nas observações detectadas, conclui-se que melhorias nos processos de colheita, transporte, armazenamento e na exposição dos frutos sob condições adequadas de temperatura e na conscientização dos feirantes em relação aos cuidados no manuseio e armazenamento da fruta são essenciais para diminuir os prejuízos.
Palavras-chave: Perdas; Qualidade; Fitomoléstia.
INTRODUÇÃO
O maracujá é originário da América Tropical, com mais de 150 espécies nativas do Brasil. Devido as suas propriedades terapêuticas, tem valor medicinal: as folhas e o suco contêm passiflorina, um sedativo natural e o chá preparado com as folhas têm efeito diurético. Possui valor ornamental, devido as suas belas flores. Seu uso principal, no entanto, está na alimentação humana, na forma de sucos, doces, geléias, sorvetes e licores. É rico em vitamina C, cálcio e fósforo. O Brasil é o maior produtor mundial de maracujá, tendo a área evoluída de 33.487 ha, em 1994, para 44.462 ha, em 1996. A produção em 2004 superou, em 20,1%, aquela observada em 1994. Considerando-se que a área aumentou apenas 9,2%, isso indica uma evolução industrial na produtividade. De fato a produtividade oscilou de 11,34 t/ha, em 1994, para 9,21 t/ha, em 1996, alcançando 13,47 t/ha, em 2002, e 13,44 t/ha em 2004.
A demanda crescente por alimentos saudáveis, produzidos sem agressões ao meio ambiente, valorizando a diversidade biológica e sem o uso de adubos químicos e agrotóxicos, é uma tendência que favorece a criação de novas oportunidades, principalmente aos pequenos produtores rurais. O sistema de cultivo orgânico do maracujazeiro-amarelo (Passiflora edulis Sims f. flavicarpa Deg.) vem sendo adotado por produtores de vários Estados, como São Paulo, Paraná e Rio de Janeiro; há, entretanto, deficiência de informações científicas sobre o cultivo orgânico da cultura, pois elas enfocam, em sua maioria, informações sobre o cultivo orgânico em geral, de hortaliças e café (SILVA et al., 2005; TODA FRUTA, 2005).
Após a colheita, a suscetibilidade do maracujá às podridões é elevada, com ocorrência significativa de perda de massa fresca e fermentação da polpa. Sob condições normais de temperatura ambiente, pode ser conservado por sete a dez dias (ARJONA et al., 1992). O reduzido tempo de vida útil após a colheita, associado ao curto período de colheita, condiciona a oferta e os preços no mercado (CETEC, 1985).
A perecibilidade, característica dos produtos agrícolas in natura, é fator determinante nas estratégias mercadológicas, fator agravado pela problemática de estocagem, por ser a maior parte da produção de frutas no Brasil obtida por pequenos agricultores. A perecibilidade, no entanto, pode ser contornada dentro de certos limites, dependendo de acertos estratégicos entre agricultores e indústria. Assim sendo, a organização da cadeia produtiva, o aumento de produtividade e a busca por vantagens nos termos de troca relativos aos preços e aos custos são os procedimentos racionais para a otimização da renda.
A caracterização de danos pós-colheita visa a facilitar a tomada de decisão por parte do produtor, do atacadista e do varejista quanto à necessidade de investimento em medidas de prevenção, pois só é possível avaliar se a adoção de uma medida de controle será lucrativa ou não, após quantificar os danos causados por determinado patógeno (BARITELLE & GARDNER, 1984).
O objetivo desse trabalho foi avaliar danos, injúrias e doenças pós-colheita de frutos de maracujá que ocorrem no mercado público de Barbalha, levando em consideração a qualidade, a forma como são manuseados e a rentabilidade fornecida devido a tais condições. Com base nos resultados dos questionários aplicados, informações importantes foram colhidas para subsidiar a análise do atual contexto de comercialização.
MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho foi conduzido durante o período de Maio a Julho de 2010 na feira livre do mercado público de Barbalha, Estado do Ceará. Situado ao lado sul da Chapada do Araripe, possui dois tipos principais de solos: latossolo e sedimentar. As principais elevações são as serras: Serra do Araripe. Já a bacia sedimentar se caracteriza por formar aquíferos, existem várias fontes de água espalhadas por toda a área da chapada. Localiza-se na Região Metropolitana do Cariri com área de 479.186 km2 e 53.011 habitantes (IBGE, 2009). A economia do mesmo tem sua base tradicional no comércio e na agricultura.
Durante a realização do trabalho, aplicou-se um questionário a 13 feirantes para avaliar possíveis injúrias, danos, doenças de pós-colheitas ocorrentes, bem como se procurou avaliar o contexto da comercialização diante de tais ocorrências. Os questionários foram analisados utilizando-se estatística descritiva além de comentários considerados relevantes, os quais foram incluídos para enriquecimento do trabalho.
Com as informações adquiridas, foi possível fazer um levantamento das doenças e da qualidade dos frutos analisados no período de Maio a Julho com visitas semanais. A escolha dos feirantes foi feita de modo aleatório.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Durante as visitas ao mercado público de Barbalha, constatou-se que não há um processo específico de classificação de frutos. Todos são colocados no mesmo local, sendo feita apenas uma separação periódica daqueles que não possuem mais qualidade alguma para consumo. Através da pesquisa verificou-se aparentemente, que parecia não ocorrer diferença concernente a qualidade dos frutos, o que leva a pensar ser um único fornecedor do produto para todos os feirantes, porém os dados coletados afirmam o contrário.
De acordo com as informações obtidas, observou-se que 93% dos feirantes conhecem a origem dos frutos que comercializam, sendo a maioria obtida principalmente dos estados de Pernambuco, Bahia e de áreas locais cultivadas por pequenos produtores (exemplo disto é o sítio Macaúba localizado no município de Barbalha).
Notou-se também que 69,23% das barracas analisadas, apresentavam frutos de má qualidade, incluindo-se aí: injúrias, danos e doenças, sendo que, dessa porcentagem, 68% são devido a doenças de pós-colheita, das quais podemos citar com maior frequência de ocorrência a antracnose (Colletotrichum gloeosporioides), que segundo SERRA & SILVA (2004) é a principal doença de frutos em pós-colheita, sendo considerada doença de elevada importância econômica no Nordeste do Brasil. Observou-se também, porém, em menor quantidade a incidência de verrugose (Cladosporium herbarum) e bacteriose (Xanthomonas campestris pv. passiflorae).
Essas doenças comprometem o aspecto qualitativo dos frutos no tocante a apresentação para comercialização, muito embora não comprometa os frutos para consumo. Sabe-se que, para uma boa aceitação pelos consumidores, os frutos devem estar túrgidos, com a casca amarela, lisa ou pouco enrugada, e com ausência de manchas e de defeitos que possam afetar a qualidade da polpa, tais como rachaduras, presença de fungos e sinais de ataque por insetos (CETEC, 1985). Os outros 32% dos frutos, apresentaram injúrias mecânicas devido ao péssimo manuseio, mostrando-se machucados, aumentando por fim o índice de má qualidade.
CONCLUSÕES
Pôde-se notar que os frutos comercializados são obtidos através de atravessadores e que poucas informações sobre a origem e manejo cultural podiam ser obtidas. A qualidade dos frutos comercializados fica a desejar face aos danos, injúrias e doenças, comprometendo assim a comercialização. A antracnose (Colletotrichum gloeosporioides) foi a fitomoléstia mais observada com 74% de ocorrência, seguida da verrugose (Cladosporium herbarum) com 14% e a bacteriose (Xanthomonas campestris pv. passiflorae) com 12% de incidência.
Notou-se, também, que essa incidência não alterou tanto quanto imaginado a comercialização do maracujá, pois, alguns consumidores possuem o hábito de consumir frutos nessa situação. Caso ocorresse uma melhor classificação dos frutos para comercialização, isentos de danos, injúrias e doenças de pós-colheita, os rendimentos obtidos pelos feirantes seriam melhores.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARJONA, H.E.; MATTA, F.B.; GARNER, J.O. Temperature and storage time affect quality of yellow passion fruit. HortScience, Alexandria, v.27, n.7, p.809-810, 1992.
BARITELLE, J.L.; GARDNER, P.D. Economic losses in the food and fiber system: from the perspective of an economist. In: MOLINE, H.E. (Ed.) Postharvest pathology of fruits and vegetables: postharvest losses in perishable crops. Davis: University of California Agricultural Experiment Station Bulletin, 1984. p.4-10.
BRASIL. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - EMBRAPA. Comercialização do maracujazeiro. Disponível em:
CETEC. Manual para fabricação de geléias. Belo Horizonte: Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais, 1985. 42 p. (Série Publicações Técnicas/SPT-015).
PORTAL SÃO FRANCISCO. Maracujá. A cultura do maracujá. Disponível em:
SERRA, I. M. R. de S.; SILVA, G. S. da. Caracterização Morfofisiológica de Isolados de Colletotrichum gloeosporioides Agentes de Antracnose em Frutíferas no Maranhão. Summa Phytopathologica, Botucatu, v. 30, n. 4, p. 475-480. 2004.
SILVA, T.T.; DELLA MODESTA, R.C.; PENHA, E.M.; MATTA, V.M.; CABRAL, L.M.C. Suco de maracujá orgânico processado por microfiltração. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v.40, n.4, p.419-422, 2005.
TODA FRUTA. Agricultura orgânica com enfoque para a possibilidade do cultivo orgânico do maracujazeiro. Disponível em:
WIKIPÉDIA. Barbalha. Disponível em:
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