segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Os produtores da Agricultura Familiar do Ceará estão ganhando apoio para produzir com maior qualidade




De baixo custo, com alta lucratividade e qualidade, sem uso de agrotóxicos. Uma técnica assim é um sonho para muitos produtores rurais. O melhor é saber que, hoje, isto já é uma realidade. Uma das técnicas utilizadas para obter esses resultados é a de cultivo protegido por meio de estufa ou telado. No Estado do Ceará, a cada ano, o uso da tecnologia se amplia em várias regiões, segundo a secretaria do Desenvolvimento Agrário. Os cultivos são diversos, mas, principalmente, ligados à agricultura familiar e ao setor de flores. Uma outra vantagem é que este cultivo possibilita a produção na entressafra, época em que a atividade agrícola é melhor remunerada.

As duas técnicas são parecidas, mas têm diferenças. A estufa é usada para proteger o plantio das chuvas. Já o telado é para proteção contra pragas. Outra diferença é que a estufa possui telas nas laterais e plásticos em cima e o telado tem tela em todos os lados.

A ação de produtores que utilizam este tipo de cultivo com hortaliças começou em 2002 na região da Ibiapaba, e em 2001, com plantios de flores e rosas. Em 2005 e 2006, um grupo de técnicos do Ceará foi para a Almeria, na Espanha, conhecer a tecnologia utilizada lá no cultivo protegido e fechar programação e custos do curso de capacitação dos técnicos cearenses. Quando voltaram, elaboraram um projeto de oito estruturas para a região da Ibiapaba. A ideia deu certo. A partir daí, foi feito um projeto piloto para melhorar a técnica que já vinha sendo praticada.

Uma equipe da Espanha também veio mostrar o trabalho feito lá com uma outra tecnologia, com apoio da Embrapa. Nesta, eram utilizadas sacolas plásticas com filtro de coco, usando solução nutritiva e fazendo a fertiirrigação dentro da estufa.

Surgiu aí o Projeto de Cultivo Protegido do Ceará, para possibilitar apoio, especialmente, aos pequenos produtores, diante da problemática da produção de hortaliças a céu aberto na Serra da Ibiapaba, em particular o tomate, além do uso de agrotóxicos, contaminando homem, ambiente e alimentos. O objetivo é ter cultivo com alta tecnologia, sustentabilidade econômica, social e ambiental.

Segundo José Wanderley Guimarães, do Núcleo de Perímetros Irrigados da Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA), o Estado, a cada ano, está investindo mais no cultivo protegido. "A partir de 2010, vamos ampliar para várias regiões do Estado. Será uma área de 800 metros quadrados para estufa ou telado". Segundo ele, serão 40 projetos distribuídos pelo Cariri, serra úmidas, Ibiapaba, Centro-Sul.

O recurso para o Projeto de Cultivo Protegido será do Fundo de Desenvolvimento da Agricultura Familiar (Fedaf), que deverá investir R$ 1,4 milhão. No valor estão incluídos a recuperação de mata ciliar, sistema de irrigação, concretagem da estrutura e sistema de biocompostagem líquida (pega-se esterco de curral faz mistura com água e injeta na irrigação).

Reuniões estão sendo realizadas para aumentar as áreas atendidas pela técnica, como Aracati, Iguatu e Limoeiro do Norte. "Tem que se adaptar para as várias regiões do Estado, já que é uma estrutura nova no semiárido, para ser usada no cultivo de tomate, pimentão, cheiro verde, alface".

Para participar do projeto, é necessário, de acordo com ele, que o local tenha água em boa qualidade e quantidade suficiente e que o produtor tenha a Declaração de Aptidão do Pronaf (DAP), esteja ligado a alguma associação e que esta não esteja inadimplente.

RESULTADOS
Maior lucro e produção sem uso de agrotóxicos

Fortaleza O uso de cultivo protegido, seja estufa ou telado, assegura um aumento na produtividade. De acordo com José Wanderley Augusto Guimarães, do Núcleo de Perímetros Irrigados da Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA), na produção de tomate, por exemplo, a produtividade é de 120 a 180 toneladas por hectare, quando em cultivo a céu aberto é de 40 a 50 toneladas no máximo. Nos dois casos são seis meses de produção.

Quanto à lucratividade, uma família que usa o cultivo protegido ganha cerca de R$ 1 mil por mês e, a que trabalha com produção a céu aberto, "se conseguir obter R$ 200,00 tira muito", comentou. Para ele, o cultivo protegido traz inúmeras vantagens, sem uso de agrotóxicos. "Trabalhamos os projetos com visão agroecológica para diminuir o uso de agrotóxico. A tendência é que este trabalho aumente cada vez mais, que os produtores de base familiar se organizem e possam sobreviver e ter rentabilidade maior".

PEQUENO PRODUTOR
Famílias são beneficiadas

 Ao todo, serão construídas 102 estruturas de cultivo protegido em todo o Ceará, beneficiando 102 famílias. Conforme José Wanderley, as estruturas serão mistas, outras só de telado e outras só de estufa. "Serão 80 voltadas para o plantio de agricultura familiar, sendo 30 mistas e 50 só telado e mais 22, somente estufa, para flores".

As mistas (estufas e telado) darão, ao todo, 538 metros quadrados; 10 telados dando 729m e 40 de 538 m. Para as flores, serão 9 estufas de 512m e 13 de 256m.

As estruturas são fabricadas com ferro galvanizado, sendo a estufa com plástico e telas e o telado só com malha. São vários tamanhos de sombreamento. Segundo explicou, o sombreamento de 30% evita a passagem do sol nesse percentual. Já na proporção de 50%, o sombreamento estará maior.

Conforme ele, a ideia é usar o projeto de cultivo protegido para organização dos produtos da Agricultura Familiar no meio rural. "Temos a expectativa de que os produtores possam vender para a merenda escolar e no mercado local. Com culturas diversificadas, como tomate, coentro, alface, vai ser mais fácil obter mais renda, até porque a produção não vai parar nem no período de chuva, já que a plantação é protegida".


Por Evelane Barros



MAIS INFORMAÇÕES 
Secretaria de Desenvolvimento Agrário do Ceará (SDA)
Av. Bezerra de Menezes, 1820
(85) 3101.8002


Ceará aposta no cultivo protegido de tomate 
O cultivo protegido é uma das alternativas de maior viabilidade técnica e econômica para aumentar a produtividade de cultivos hortícolas e reduzir a aplicação de defensivos. Produtores de tomate da Serra da Ibiapaba, no Estado do Ceará, estão adotando essa tecnologia para aumentar a produtividade e a rentabilidade do cultivo de tomate. A ação é um dos resultados do projeto “Aperfeiçoamento tecnológico do cultivo protegido de tomate e pimentão no Estado do Ceará”, liderado pela Embrapa Agroindústria Tropical, em parceria com o Instituto Agropólos e a Universidade Federal do Ceará e financiado pelo Banco do Nordeste do Brasil (BNB)/Fundeci. Segundo dados do Instituto Agropólos, a área total plantada na Serra da Ibiapaba chega a 500 hectares para o tomate e 400 hectares para o pimentão. Atualmente, 37 produtores da região já utilizam a técnica de cultivo protegido para o tomate e o pimentão, totalizando 38 hectares de tomate e sete hectares de pimentão. No tomate, a produção utilizando essa tecnologia é de 120 toneladas/ha.
Segundo o pesquisador Fábio Miranda, o cultivo protegido de hortaliças tornou possível controlar o ambiente de crescimento e de reprodução das plantas, além dos efeitos adversos do clima. “Essa técnica permite também obter colheitas fora da época normal, maior crescimento das plantas, precocidade de colheita, redução das perdas de nutrientes, melhoria da qualidade de produção e uma maior eficiência no controle de doenças”, diz.
Por outro lado, muitas doenças em cultivo protegido tendem a se tornar mais severas que em cultivo convencional, Além dos fatores climáticos, é preciso considerar o estado nutricional das plantas na estufa e a sua maior densidade, o que pode propiciar condições mais favoráveis aos patógenos e/ou predispor as plantas à infecção. De acordo com Fábio Miranda, esses fatores fazem com que seja necessário monitorar constantemente o ambiente interno, em especial nas horas mais frias e mais quentes do dia.
O experimento conduzido pela Embrapa utiliza o cultivo sem solo, com substrato de fibra de casca de coco verde. “No cultivo com substrato, a água é o fator mais importante da produção. A adequação de seu aporte às necessidades hídricas do cultivo tem como objetivo não permitir o estresse hídrico, nem um déficit de oxigenação por falta ou excesso de água”, explica Fábio Miranda.
O pesquisador conta que o estudo contempla também a identificação das principais pragas e doenças, suas épocas de ocorrência e graus de severidade em cultivos protegidos. A equipe de pesquisadores também está estudando os inimigos naturais, determinando os níveis naturais de controle, estabelecendo estratégias de controle integrado para manter as pragas e doenças abaixo dos níveis de dano econômico.
Os primeiros resultados são promissores. “Num comparativo entre o cultivo tradicional e o cultivo protegido, tivemos 33 pulverizações num período de 66 dias no primeiro, enquanto foram necessárias apenas duas pulverizações no cultivo protegido”, conta Fábio Miranda. Ele acrescenta que, nas duas colheitas efetuadas, 95% eram frutos de primeira qualidade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário