Ghini, Raquel
Impactos das mudanças climáticas sobre doenças de importantes culturas no
Brasil / editores Raquel Ghini, Emília Hamada, Wagner Bettiol. – Jaguariúna:
Embrapa Meio Ambiente, 2011.
356 p.
ISBN 978-85-85771-51-5
1. Mudança climática. 2. Doença de planta. I. Hamada,
Emília. II. Bettiol, Wagner. III. Título.
foto by jtorres
O oídio, também denominado cinza do cajueiro, é uma doença comum, porém
de pequeno impacto econômico no Nordeste. No entanto, na África, causa sérios
problemas à cultura do cajueiro, principalmente quando incide sobre a
inflorescência, impedindo a formação dos frutos. A doença torna-se mais severa
logo após o período chuvoso, quando a umidade relativa e a temperatura são
elevadas (Kimati et al., 2005).
Sintomas - Os sinais
são caracterizados por um delicado crescimento branco-acinzentado, na
superfície das folhas e inflorescência, constituído por micélio, conidióforos e
conídios do patógeno. O fungo emite haustórios para o interior das células
epidérmicas, de onde absorvem os nutrientes. Em decorrência disto, o tecido
afetado exibe pontos neuróticos, escuros, mais pronunciados na face inferior da
folha. Com a evolução dos sintomas, pode ocorrer a queda prematura de folhas e
flores. O patógeno pode penetrar no tecido da planta em qualquer fase de seu
desenvolvimento (Kimati et al., 2005).
Etiologia - O agente
causal é o fungo Oidium anacardii. Seus conídios hialinos são
produzidos em conidióforos curtos, em cadeias eretas, formando um ângulo reto
com a superfície do hospedeiro. Na fase perfeita ou teleomórfica, Erysiphe
polygoni, forma cleistotécios escuros, dotados de apêndices, sobre o micélio
superficial, contendo vários ascos e, dentro destes, ascósporos hialinos e
unicelulares (Kimati et al., 2005).
1. Nesta fase o fungo pertence a qual classe?
O patógeno pode ser facilmente disseminado pelo vento e pelos insetos.
Como o crescimento é superficial, chuvas pesadas removem o micélio do limbo
foliar ou de qualquer outro órgão afetado. As condições que favorecem a doença
são alta umidade relativa, sem ocorrência de chuva, e temperatura em torno de
28 °C (Kimati et al., 2005).
Epidemiologia - O. anacardii pode
ser encontrado sobre plantas de cajueiro durante todo o ano, não obstante
exerça sua patogênese com maior intensidade de julho a dezembro, quando as
temperaturas variam de 23 a 32° C. Mesmo durante este período, normalmente a
época mais seca no Nordeste, a umidade relativa pode chegar a atingir 80%,
facilitando a patogênese do fungo. Os conídios são disseminados pelo vento e
requerem 90 a 100% de umidade relativa para a germinação e uma faixa ótima de
temperatura de 26 a 28 °C. A partir de janeiro, caso se inicie o período
chuvoso, somente é possível encontrar o fungo em folhas do interior da copa,
protegido da insolação e da chuva (Stadnik et al., 2001).
Ao contrário do que ocorre no Brasil, nos países africanos é, mais comum
o fungo infectar órgãos jovens, provocando quase sempre efeitos devastadores na
produção. Após o período chuvoso o patógeno atinge seu pico populacional na
África, geralmente de junho a setembro, afetando folhas, brotações,
inflorescências e maturis (o conjunto pseudofruto + castanha jovem). Mudas e
plantas jovens mostram-se extremamente suscetíveis (Stadniket al.,
2001).
2.
Conforme
o texto: A partir de janeiro, caso se inicie o
período chuvoso, somente é possível encontrar o fungo em folhas do interior da
copa, protegido da insolação e da chuva (Stadnik et al., 2001).
Explique e justifique.
3.
O.
anacardii pode ser encontrado sobre plantas
de cajueiro durante todo o ano, não obstante exerça sua patogênese com maior
intensidade de julho a dezembro, quando as temperaturas variam de 23 a 32° C.
Por qual motivo a patogênese apresenta-se com maior intensidade de julho a
dezembro?
Situação 2. Antracnose da pimenta vermelha
A antracnose da pimenta vermelha é favorecida por condições ambientais,
como chuva intensa, alta umidade, temperaturas em torno de 250 C e
ventos fortes, que ocorrem na época da frutificação no sul do Rio Grande do
Sul. Essas condições associadas ao manejo inadequado da cultura, de fertilizantes,
do solo e da água, além do manejo fitossanitário, podem favorecer a doença e
desencadear grandes perdas.
1.
No caso
do Ceará em quais regiões o cultivo da pimenta vermelha poderia ser ameaçado
pela antracnose?
2.
O
adensamento, a densidade de plantio e a variedade cultivada podem ser fatores
comprometedores da ocorrência epidêmica desta fitomoléstia? Explique e
justifique.
Situação 3. A
análise de epidemias é inerentemente quantitativa e o efeito do impacto
potencial das mudanças climáticas nas epidemias também deveria sê-lo. No
entanto, em função da necessidade política de prever o futuro, para que ações
possam ser tomadas no presente, é comum que textos meramente opinativos e
especulativos sejam produzidos sobre o futuro das epidemias. Assim, Boland et
al. (2004), imbuídos do senso comum de que os invernos mais curtos e menos
rigorosos previstos para a região de Ontário, no Canadá, modificarão o
comportamento das epidemias de doenças de plantas, elaboraram uma tabela que
antecipa os efeitos das mudanças climáticas na taxa de progresso da doença, no
inóculo inicial e na duração das epidemias de 146 doenças de 16 culturas
agrícolas e nove espécies vegetais. Foram previstos aumentos no inóculo inicial
em 58 % das doenças e aumentos na taxa de progresso das epidemias em 34 % dos
casos relatados. As informações que justificaram essas previsões foram as
seguintes: (i) invernos menos rigorosos podem diminuir o inóculo de patógenos
do solo pela maior competição microbiana; (ii) invernos menos rigorosos devem
aumentar o inóculo de patógenos que sobrevivem em restos culturais e em insetos
vetores; (iii) as estações de cultivo mais quentes e secas podem aumentar ou
reduzir a taxa de progresso da doença, devendo-se verificar, para cada caso, se
o patógeno é positiva ou negativamente influenciado por essas variáveis; (iv)
as taxas de progresso de doenças transmitidas por insetos vetores devem aumentar,
pois haverá mais insetos vindos do sul e sua atividade será aumentada com o
clima mais quente; (v) as taxas de progresso de doenças ocasionadas por
patógenos que penetram via ferimento deverão aumentar, pois haverá aumento na
quantidade de injúrias nas plantas ocasionadas pela maior frequência de eventos
climáticos drásticos, como furacões; (vi) as taxas de progresso de doenças
ocasionadas por patógenos dispersos pela água devem diminuir, pois haverá
redução na quantidade de chuvas. Apesar de demandar enorme esforço, textos
opinativos com a antecipação das implicações das mudanças climáticas em
epidemias de doenças de plantas, sem dados experimentais, não têm respaldo
científico e deveriam permanecer na esfera política.
1.
Faça uma análise crítica do texto e diga se concorda ou
não com a previsão da antecipação dos efeitos das mudanças climáticas na taxa
de progresso da doença, no inóculo inicial e na duração das epidemias de 146
doenças de 16 culturas agrícolas e nove espécies vegetais.
2. Como seria uma comparação idêntica
dos itens propostos (i; ii; iii....vi) para o caso do período de seca do
nordeste? Exemplifique.
Situação 4.
Ralstonia
A
murcha bacteriana, causada por Ralstonia solanacearum, pode ser
considerada uma das mais importantes doenças de um grande número de culturas em
regiões tropicais, subtropicais e temperadas quentes de todo o mundo. Essa
bactéria tem ampla gama de hospedeiros, incluindo centenas de espécies em
cinquenta famílias (JI et al., 2007).
A raça 1 afeta um elevado número de hospedeiros, como fumo,
tomate, batata, bananas diplóides e outros, sendo conhecida como a raça das
solanáceas, com um ótimo de crescimento em elevadas temperaturas (35 °C a 37
°C). A raça 2 causa doença conhecida como “moko” em bananas triplóides, e
também afeta espécies de helicônias, sendo considerada a raça das musáceas,
tendo também um ótimo de crescimento em temperaturas elevadas (35 °C a 37 °C).
A raça 3 ataca, principalmente, batata e tomate, além de outras espécies, para
as quais é pouco virulenta, mas apresenta um ótimo de temperatura mais baixo
(27 °C). Essa raça afeta diversas plantas daninhas, tendo sido descrita também
em gerânio (JI et al., 2007). Além de temperaturas elevadas, alta umidade do
solo ou períodos de clima úmido e estações chuvosas são associados à maior
severidade da murcha bacteriana (FEGAN; PRIOR, 2006).
A
murcha-bacteriana do tomateiro é uma das principais doenças da cultura no
Brasil, sendo causada pelas raças 1 e 3 e, raramente, pela raça 2. A raça 1 é
endêmica nas Américas e pode causar murcha também em berinjela, pimenta, batata
e tabaco. As condições favoráveis para a doença são elevadas temperaturas do
solo, de 28 °C a 32 °C, e solos úmidos, encharcados e com pH abaixo de 7,0.
Abaixo de 21 °C, as plantas, mesmo infectadas, não exibem sintomas (KUROZAWA;
PAVAN, 2005). Considerando o País como um
todo, provavelmente, a importância da murcha-bacteriana em tomate e outras
solanáceas pode vir a aumentar especialmente nas regiões Norte e Nordeste
(GIORIA et al., 2008) no período de dezembro a junho, em que a temperatura
média, considerando o cenário A2, será próxima de 30 °C (Capítulo 2), mais
favorável para a doença que a temperatura média que predomina nessas regiões
atualmente. Prevê-se redução na intensidade das chuvas ao longo do ano nas
regiões Norte e Nordeste, mas a precipitação de dezembro a maio ainda será
elevada, portanto, os danos causados pela murcha podem ser graves nessas
regiões, especialmente após elevadas precipitações.
1.
As
considerações abordando temperatura e pluviosidade de maneira isolada com base
em cenários futuros constituem indicadores fortes de previsão de epidemias da
murcha bacteriana no presente caso? Explique e justifique.
Situação 5.
Fusariose no abacaxizeiro
A fusariose é o principal fator limitante à exploração comercial
do abacaxi no Brasil. Capaz de atacar todas as partes da planta, causa
podridões que se caracterizam pela exsudação de uma substância gomosa. O
patógeno é responsável por perdas na produção de frutos superiores a 80 %, a
depender do potencial de inóculo, da região e da época de produção. Esta
variação dentro de determinada região está relacionada às condições ambientais
durante o período compreendido entre o tratamento de indução floral e a
colheita dos frutos (MATOS, 1999).
Estudos realizados na região
produtora de abacaxi de Coração de Maria, Bahia, mostraram que quanto mais
elevada a precipitação pluviométrica no período compreendido entre a indução
floral e a colheita dos frutos, maior será a incidência da fusariose. Os mesmos
estudos mostraram também que quanto maior for o número de horas por semana, na
faixa de temperatura compreendida entre 15 °C e 22 °C, depois do tratamento de
indução floral, mais elevada será a incidência da fusariose nos frutos. Por
outro lado, a predominância de períodos de ocorrência de temperaturas acima de
28 °C após a indução floral resultou em diminuição gradativa na incidência da
doença, atingindo níveis insignificantes a temperaturas superiores a 35 °C.
Esses resultados mostram, claramente, a influência da temperatura e da
precipitação pluviométrica, durante o desenvolvimento da inflorescência, sobre
a incidência da fusariose nos frutos do abacaxizeiro. Indicam também que a
associação de temperaturas baixas com precipitações elevadas potencializa a
incidência da doença (MATOS et al., 2000).
Partindo-se desses conhecimentos
espera-se que a incidência da fusariose nos frutos deverá decrescer à medida em
que a temperatura se situar acima de 35 °C e a pluviosidade diminuir em
decorrência do aquecimento global, desde que essas condições ambientais
predominem durante o desenvolvimento da inflorescência, tanto dentro das
regiões produtoras tradicionais, quanto nas novas fronteiras agrícolas que
venham a ser abertas para o cultivo do abacaxizeiro decorrentes do referido
efeito climático.
A dispersão de Fusarium
subglutinans f. sp. ananas do Sudeste para o Nordeste e Norte do
Brasil e seu consequente estabelecimento nessas regiões sugere ampla capacidade
adaptativa do patógeno a novos ambientes, haja vista a diversidade de
características climáticas das regiões produtoras afetadas, especialmente na
região Norte, onde a maioria dos plantios comerciais de abacaxi localizam-se em
regiões de temperaturas bastante elevadas, em comparação com o Sul e Sudeste do
País
Situação
3. A análise de epidemias é inerentemente quantitativa e o efeito do
impacto potencial das mudanças climáticas nas epidemias também deveria sê-lo.
No entanto, em função da necessidade política de prever o futuro, para que
ações possam ser tomadas no presente, é comum que textos meramente opinativos e
especulativos sejam produzidos sobre o futuro das epidemias. Assim, Boland et
al. (2004), imbuídos do senso comum de que os invernos mais curtos e menos
rigorosos previstos para a região de Ontário, no Canadá, modificarão o
comportamento das epidemias de doenças de plantas, elaboraram uma tabela que
antecipa os efeitos das mudanças climáticas na taxa de progresso da doença, no
inóculo inicial e na duração das epidemias de 146 doenças de 16 culturas
agrícolas e nove espécies vegetais. Foram previstos aumentos no inóculo inicial
em 58 % das doenças e aumentos na taxa de progresso das epidemias em 34 % dos
casos relatados. As informações que justificaram essas previsões foram as
seguintes: (i) invernos menos rigorosos podem diminuir o inóculo de patógenos
do solo pela maior competição microbiana; (ii) invernos menos rigorosos devem
aumentar o inóculo de patógenos que sobrevivem em restos culturais e em insetos
vetores; (iii) as estações de cultivo mais quentes e secas podem aumentar ou
reduzir a taxa de progresso da doença, devendo-se verificar, para cada caso, se
o patógeno é positiva ou negativamente influenciado por essas variáveis; (iv)
as taxas de progresso de doenças transmitidas por insetos vetores devem
aumentar, pois haverá mais insetos vindos do sul e sua atividade será aumentada
com o clima mais quente; (v) as taxas de progresso de doenças ocasionadas por
patógenos que penetram via ferimento deverão aumentar, pois haverá aumento na
quantidade de injúrias nas plantas ocasionadas pela maior frequência de eventos
climáticos drásticos, como furacões; (vi) as taxas de progresso de doenças
ocasionadas por patógenos dispersos pela água devem diminuir, pois haverá
redução na quantidade de chuvas. Apesar de demandar enorme esforço, textos
opinativos com a antecipação das implicações das mudanças climáticas em
epidemias de doenças de plantas, sem dados experimentais, não têm respaldo
científico e deveriam permanecer na esfera política.
3.
Faça
uma análise crítica do texto e diga se concorda ou não.
4.
Como seria uma comparação idêntica
dos itens propostos (i; ii; iii....vi) para o caso do período de seca do
nordeste? Exemplifique.
Metodologia: Equipes de 3 alunos, enviando o resultado para o email joaquim.torres55@gmail.com até 25/05/2013 18h.
Nenhum comentário:
Postar um comentário